O Sexto Sense Salvando


“Olha essa foto! Eu gostei tanto dessa viagem à Espanha no ano passado!”

“Eu gostei demais”, disse o meu namorado, olhando amorosamente para mim. Eu amo a olhadinha que ele às vezes dá quando olha para mim. Ele me pegou pela mão e começou a afagar a minha mão devagar. Ele tem a capacidade de acalmar qualquer pessoa afagando algumas partes precisas da mão. Tem um dom para isso mesmo.

“Olha esses dois, tão fofos”, disse um homem em frente a nós dois. Tinha mais ou menos a mesma idade que a gente: entre os 20 e os 25. O que acabou de dizer, não era com nenhum tom amável, mas mais o tom que as pessoas usam quando seu objetivo é de mostrar uma repulsa para ridicularizar alguém. 

As outras pessoas no tram o tinham ouvido, mas ninguém fez nada. A gente está acostumado a esse tipo de situação: um homofóbico ridicularizando um casal de homens e os demais, espectadores, só olhando, não ousando fazer nada.

Eu já não me atrevi a dizer nada. Sou o tipo de pessoa que não gosta de ter problemas com os demais, mas uma situação assim de homofobia acontece bem frequentemente. Um casal com dois homens ainda não é alguma coisa aceita …

O rapaz que tinha falado da gente nos olhava com uma mistura de ódio e de repulsa, e às vezes falava com seus amigos, ainda olhando para a gente. A gente ainda se sentia incomodado. 

“Não aguento mais a olhada de ódio desse rapaz, quero sair” disse a meu namorado. A gente desceu na parada seguinte, mas o grupo do rapaz decidiu, de última hora sair também.

A gente começou a correr. Naturalmente, o rapaz fez a mesma coisa.

“Vou te pegar, e vão acabar no hospital!” Ouvi dizer.

Eu sabia que não podia correr para sempre e que tinha de encontrar um lugar. Mas onde??

A gente ainda estava distante do rapaz. O meu namorado virou numa rua à esquerda e depois diretamente numa porta fechada. Era muito calmo, nenhum barulho. A gente continuou a avançar, e aí a gente encontrou um grupo de 10 pessoas numa sala grande. 

“Bom dia, pessoal! Sejam bem-vindos!”

A gente não sabia o que dizer. Onde estávamos? Quem são essas pessoas?

“Vocês também vêm pela improvisação? Sou o Miguel, o organizador do evento. A aula vai começar em cinco minutos. Ainda têm outras pessoas esperando esse quarto aí” e aí apontou para uma sala à esquerda. “Também tem outra sala. No total, três, cada uma com uma capacidade para 50 pessoas. Vocês já podem escolher uma aula e encontrar outras pessoas.” Disse ele com um sorriso grande. 

A gente olhava ao redor. A atmosfera era muito amigável, e as pessoas estavam sorrindo, não teve nenhum preconceito, juízo. Eu olhei para o meu namorado. Parecia, tão como eu, gostar dessa rápida mudança de situação. A gente sabia que não tinha que ficar com medo de mostrar os sentimentos que sentia. A gente se beijou. Isso não parecia dar nenhuma impressão negativa ou de repulsa nas pessoas ao redor. A gente veio para a sala à esquerda as pessoas que estava lá já começaram a fazer perguntas para nós sobre como a gente tinha encontrado a atividade ou se já tínhamos feito improvisação antes. Nunca tinha feito isso, mas era uma boa oportunidade para começar!